As consolações da filosofia
Este livro de Alain de Botton sugere que a
filosofia pode oferecer consolação para muitas mazelas humanas. A partir das
idéias de seis filósofos - Sócrates, Epicuro, Sêneca, Montaigne, Schopenhauer e
Nietzsche - ele apresenta exemplos de consolação para a impopularidade, não ter
dinheiro suficiente, frustração, inadequação, coração partido e dificuldades.
O estilo é bem-humorado, às vezes confessional, com capítulos curtos e
muitas ilustrações. Ao combinar uma introdução à filosofia com uma paródia de
manual de auto-ajuda, o autor garante momentos de leitura instrutiva e
divertida. Em Consolação para a impopularidade, a vida e a morte de Sócrates são
apresentadas como um convite ao ceticismo inteligente. O método socrático de
raciocínio coloca à prova o senso comum e estimula o desenvolvimento de opiniões
autônomas. Sob determinadas circunstâncias, advogava o filósofo grego, é preciso
ter força para não levar a sério as opiniões alheias.
Epicuro e sua
filosofia da busca de felicidade pelo prazer são um alento para quem tem pouco
dinheiro. Segundo o epicurismo, a felicidade é relativamente independente dos
bens materiais. Os ingredientes essenciais para uma vida agradável são a
amizade, a liberdade e a reflexão serena sobre as principais fontes de ansiedade
- morte, doença, fome, superstição.
Consolação para a frustração aborda a
vida de Sêneca, cuja obra é permeada por uma única tese: a de que suportamos
melhor as frustrações para as quais nos preparamos e somos atingidos
principalmente por aquelas que menos esperamos. O filósofo romano propôs que se
tenha sempre em mente a possibilidade de uma tragédia e que não se deve
surpreender com nada: "O que não pode ser modificado precisa ser suportado".
As idéias de Michel de Montaigne servem de conforto para quem sente
inadequação sexual, cultural ou intelectual. O escritor francês alimentava
reservas quanto à erudição livresca, questionava a racionalidade humana e
defendia o diálogo franco sobre as atividades genitais. Em Ensaios, comentou o
comportamento de seu pênis e intestinos, considerados partes essenciais de sua
identidade. Montaigne passou dezessete meses percorrendo a Europa a cavalo, o
que o ajudou a comparar diferentes conceitos de normalidade. O leitor é
convidado por ele a substituir os preconceitos locais pela identidade de cidadão
do mundo.
As atribulações amorosas são tratadas em Consolação para um
coração partido a partir dos escritos de Schopenhauer. O filósofo alemão
afirmava que os atos humanos são governados pela "vontade de viver", um impulso
inerente a permanecer vivo e reproduzir. O amor nada mais seria que a
manifestação da descoberta do pai ou mãe ideal para uma prole inteligente e
bonita. Assim, o consolo para a rejeição amorosa é saber que esta foi
conseqüência de uma lei da natureza.
Consolação para as dificuldades resgata
as idéias de Friedrich Nietzsche, para quem é impossível atingir uma vida plena
sem passar por grandes períodos de dificuldade. Nietzsche utilizava uma analogia
com a jardinagem para ressaltar a importância da valorização dos elementos
negativos da vida humana: "Se fôssemos ao menos terrenos férteis, não
permitiríamos que nada se tornasse inútil e veríamos em cada acontecimento, em
cada coisa e em cada homem um adubo bem-vindo".
Alain de Botton nasceu na
Suíça e se formou em filosofia na Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Seu
romance de estréia, Ensaios de amor, foi escrito aos 21 anos e suas obras foram
traduzidas para vinte línguas. Atualmente vive em Washington DC e Londres, onde
é diretor do Programa de Graduação em Filosofia da Universidade de Londres. A
Editora Rocco, além de As Consolações da Filosofia, publicou Ensaios de amor,
Como Proust pode mudar sua vida, O movimento romântico e Nos mínimos detalhes.
pensamentos despenteados para dias de
vendaval.
Fonte: Dauro Vera
Em geral, publicações deste gênero são recheadas de lembretes, frases históricas, aforismas filosóficos, previsões astrológicas, informações globais; outras vezes, trazem conselhos práticos para um mundo demasiadamente prático e pragmático. Mas aqui, as marcas do caminho do tempo e do calendário são demarcações poéticas, jardins de flores e plantas e florações feitas de poesia, as fronteiras de cada dia.